A lição do pardal


Eu e um amigo incrédulo passeávamos pelas ruas descalças de minha terra natal. De vez em quando éramos obrigados a apressar os passos para escaparmos da lama que um automóvel nos atiraria ao passar por uma poça de água suja.


Havia caído uma grande tempestade, mas a tarde era bela, não havia mais nuvens negras no céu, sereno e calmo, que nos convidava a meditar e a pensar em quem o fez assim tão belo e manso, depois de se ter mostrado tão violento e ameaçador.

O homem e o céu têm muita coisa em comum. O homem também, como o céu daquele dia, experimenta momentos de verdadeira bonança espiritual depois de tremendas tempestades íntimas. Isso se explica por terem ambos sido criados pelo mesmo Deus.

- Não é bonito tudo isto? Perguntei ao meu amigo, não é maravilhoso que um céu depois de tanta ameaça, relâmpagos e trovões se mostre tão calmo como um animal domesticado? Será que nem esses fenômenos tão maravilhosos o fazem crer em Deus? Um Deus criador de coisas tão singulares?

- Não vejo nada de singular, respondeu o meu amigo. Tudo se repete normalmente e eu não vejo motivos para atribuir a Deus tais fenômenos periodicamente repetidos!

- Então você não acha que a simples repetição periódica do fenômeno fala bem alto do poder de um Deus que o controla? Será possível dar-se essa repetição sem que alguém a determine? Ou você pensa que suas mãos procurariam o alimento quando você sente fome, sem que sua mente determine?



- E como pode você falar de um Deus, objetou-me procurando convencer-me de sua existência, se ele, se é que existe, é tão misterioso, transcendental mesmo? Eu só creio no que vejo, no que entendo. 

Fora disso tudo mais é utopia e dificilmente me convencerão de histórias desse tipo - existência de Deus. Em resumo eu só crerei em Deus no dia em que eu, que fui criado à sua imagem e semelhança, como diz a Bíblia, o entender plenamente.

Parei de falar por uns momentos pensando se estava ou não atirando pérolas aos porcos. Estávamos parados numa esquina contemplando a rua esburacada, cheia de poças de água, sujas umas, limpas outras. 

Eis que um pardal peralta e alegre desce de um telhado próximo, num voo rasteiro e rápido mergulha uma poça de água suja saindo dela com a mesma rapidez com que entrou, para, em seguida, mergulhar numa poça de água limpa que ficava mais além.

Novamente no telhado a avezinha começou a arrepiar-se toda, para se enxugar, mas logo desceu de novo e de novo repetiu a operação voltando ao telhado.

- Que passarinho burro, observou o meu amigo que também tinha sido atraído pela cena encantadoramente simples. Por que será que ele fez isso?

- Você sabe? Perguntei, que na escala do desenvolvimento biológico o homem está muito mais adiantado do que as aves? Você sabe que você é muito mais desenvolvido do que esse pardal que você chamou de burro? Contudo, se você com toda a sua capacidade, não é capaz de entender um bichinho desses, tão insignificante, como pode você, meu amigo, verdadeiro verme diante de Deus, pretender entende-lo plenamente?

O meu amigo ficou calado, a cismar, e o silêncio só foi quebrado, propositadamente por mim, quando ao nos despedirmos trocamos as boas noites.

E eu me lembrei do profeta Isaías: "Aí daquele que contende com o seu criador! O caco entre os cacos de barro! Porventura dirá o barro ao que o formou: que fazes"? (Isaías 45.9)

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