Morte

Despedida
Fui chamado a dar assistência a uma senhora em seus últimos instantes de vida. No quarto simples, uma cama simples, como simples era tudo que se relacionava com o casal de anciãos, com mais de cinquenta anos de vida conjugal. Ele segurava delicadamente as mãos já descarnadas de sua querida esposa. Depois de uma prece ela abriu os olhos, já embaciados pela morte, fechou-os suavemente. O marido que acompanhava todos os movimentos, olhou para cima e disse: - Senhor Deus, cuide bem dela aí pra mim até que chegue a minha vez.

(Extraído do livro “Pense Comigo – Meditações Evangélicas”, 1ª Edição – Rev. Samuel Barbosa)

Últimas palavras
Há cenas que a gente não consegue esquecer. Na minha vida de acompanhamento de várias agonias, como pastor, já presenciei cenas de que jamais vou esquecer. Ele tinha oitenta anos e vivia seus últimos momentos. Eu estava bem próximo sentado à cabeceira de sua cama. Os familiares à espera do desenlace. Percebi um leve movimento em seus lábios e um tênue fio de voz. Aproximei-me para ouvir o que ele queria falar e percebi que não falava comigo - balbuciava estes versos: 'Tu que sobre a amarga cruz, revelaste teu amor, tu que vives ó Jesus, vivifica-me, Senhor". Parou por aí, creio que o final da poesia ele declamou diretamente na presença de seu Senhor e Mestre. 

(Extraído do livro “Pense Comigo – Meditações Evangélicas”, 1ª Edição – Rev. Samuel Barbosa)

Vamos ficar bem
O netinho estava sentado no colo do avô que já estava começando a cochilar.

- Vovô, feche os olhos, pediu o neto.

O avô fechou os olhos e o neto disse: Gozado, não aconteceu nada.

- Não aconteceu nada, o quê, perguntou curioso o avô.
- É que o papai vive dizendo que quando você fechar os olhos nós vamos ficar bem!

(Extraído do livro “Pense Comigo – Meditações Evangélicas”, 1ª Edição – Rev. Samuel Barbosa)

Enterro ecumênico
Entrava no cemitério para oficiar um enterro. Entraram dois simultaneamente. Os acompanhamentos fundiram-se num só, pois, dentro de um "campo santo", todos são iguais...

Ao chegar à quadra, com a diferença de alguns metros, estavam as duas sepulturas abertas. No entanto, notei certo constrangimento. Os de cá olhavam para os de lá, pouco atentos, e os de lá me ouviam com evangélica atenção. Tinha acabado de ler, quando alguém me avisou: 

-"Pastor, o Sr. está fazendo ofício para um enterro católico". 

Não me desconsertei, contudo. Estava para pregar e introduzi o assunto, explicando o equívoco: 

-"Estamos em tempo do 'ecumenismo', proposto pelo Papa João XXHI, e não seria agora o momento de estarmos separados". 

A seguir, exortei a todos sobre o risco de partir desta vida sem Deus. Concluí impetrando a bênção sobre todos. Eles saíram satisfeitos e vieram até me agradecer, não rezando o terço naquele dia. Esgotei o tempo. Agora, os coveiros deveriam entrar em ação. De uma só vez, solenizei, com a gafe, dois enterros ao mesmo tempo. Muito serviço, não? Eu sou um ministro trabalhador...

(Extraído do livro “Os meus dias” – Rev. Lázaro Lopes de Arruda, 1997.)

Morte, evangelismo
Em Tietê, havia uma família, das mais queridas... Ganhei tanta confiança na família que visitava o Sr. João Madureira e sua esposa D. Mercedes - delicadeza em pessoa! D. Olívia morava com eles, após o tempo em que enviuvara. Nestas visitas, eu orava pela família, e especificamente por ela. Ela sempre se referia aos meus artigos. 

Um dia encontrei a D. Olívia e a família desesperada. Uma sua netinha, ou parente próxima, menininha inteligente e inquieta, falecera repentinamente. Orei com eles, D. Olívia me falou:

-"O enterro será hoje às 14:00 horas, em Cerquilho, e eu queria que o Sr. falasse à saída. Eles são muito católicos, mas eu já obtive permissão para levar o pastor para pregar".

Aceitei o desafio. Família muito conceituada. Ao chegar, tive de pedir licença à multidão, ao aproximar-me do caixão em que jazia, afogado em flores, o corpinho da linda menina Eles rezavam o terço, num coro prolongado de "padres-nossos" e "aves-marias". 

Terminada a reza, consultados os pais, que confirmaram o que me pedira a avó, tomei da palavra. Ao ler a Bíblia, de início, uma senhora grisalha, que acompanhara a reza, falou em alta voz: 

-"Tirem o crucifixo e apaguem as velas". 

Eu retruquei: 

-"Não, minha senhora. As imagens e as velas podem continuar aqui. Elas são indiferentes". 

A seguir, com o coração, falei ao coração daquela gente abalada. Meu discurso foi de uns 15 minutos, e todos bebiam o que eu falava. O fato abalou muita gente. Acompanhei o caixãozinho branco, ajudando os que o transportavam até a entrada da matriz. No corpo foi aspergido água benta, por um jovem padre. Eu ouvia falarem, murmurando: "Que diferença! Por que o padre não falou a tanta gente na matriz, como o pastor falou na saída?

Anos depois, muitos jovens da família Madureira se converteram, professando a fé em Jesus. Se não me engano, D. Olívia ficou na mesma Igreja em que nasceu, talvez por respeito à família tradicionalmente católica. Tenho, porém, certeza que no interior da sua alma estava plantada a gloriosa semente da Palavra de Deus. 

(Extraído do livro “Os meus dias” – Rev. Lázaro Lopes de Arruda, 1997.)

Palavras reconfortantes
Minha mãe faleceu já em 1970, ocasião em que estive com meu pai e meus irmãos. Foi uma cena muito emocionante ver a minha genitora desfalecida, cujo corpo enfraquecido seria sepultado dali algumas horas, depois de numerosas batalhas.

Viajei para Buri, conduzindo-me em seu carro o presbítero Laurindo Jacob Hessel, de Tatuí. Saí de madrugada, passando por Itapetininga, levando em nossa companhia o Rev. Gentil de Toledo Silva, pastor dos meus familiares. Não descrevo tudo o que se passou naquela desagradável e tétrica manhã. Só me lembro das palavras reconfortantes ' de Jesus: "Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá" - Jo. 11:25.

(Extraído do livro “Os meus dias” – Rev. Lázaro Lopes de Arruda, 1997.)

Morte, conversão
Meu tio chegava à casa paroquial quando a noite se aproximava. As nuvens negras adensavam os céus... Depois de haver esperado o padre por um certo tempo, aguardando-o à porta, apareceu ele finalmente à janela. Aflito, o mensageiro falou-lhe que vinha às pressas, já que o Sr. Francisco Leonel, seu pai, religioso deveras sincero, estava vivendo os últimos momentos e que precisava muito do consolo da religião, antes de morrer. 

O diálogo foi muito superficial: "Meu pai está agonizando e vim buscar o Sr., padre, tendo ele sido rezador de terços, festeiro, devoto sincero da nossa religião católica". Interrompeu-lhe o padre: "Então nem precisa de padre. O tempo promete chuva e não vou me arriscar. Volte e reze junto dele um Padre Nosso e uma Ave Maria. É o que basta". 

Meu tio fez meia volta e retornou sem o padre e com muita tristeza no coração. Minha mãe, que ouvia a leitura da Bíblia de João Floriano em poder de meu pai, aproximou-se do seu velho pai e lhe disse: "Pai, o padre não veio, mas Deus está conosco! Firme a sua mente na salvação de Jesus". Ele, com doce expressão facial, entregou o espírito ao seu Criador. 

Logo após sua morte, tomamos o Novo Testamento que lhe entregamos meses antes, trazido de Sengés. Ele fumava, mas o Novo Testamento estava todo marcado nos textos mais expressivos, com palhas de cigarro - tiras de palha de milho com que enrolava os seus cigarros. "Teria se convertido? Só Deus sabe! Suas últimas atitudes eram de um crente.

(Extraído do livro “Os meus dias” – Rev. Lázaro Lopes de Arruda, 1997.)

Morte
Abraão Anderson dos Santos - Nasceu em Bom Retiro- SC, filho de Francisco Quintino dos Santos e Tomásia Anderson dos Santos. Foi meu colega desde o Instituto Cristão de Castro (1943)-PR. Inteligente, educado, bondoso, ótimo estudante. Gostava de esporte. Apesar de portador de uma deficiência física, levava sempre vantagens, dada a sua força de vontade no futebol, no basquete e em outras modalidades. Ao gozar férias em casa de seus pais, Deus o chamou repentinamente. Tinha concluído o primeiro ano com brilho, média 93 e 97. Era candidato da Missão Americana no Brasil (Central Brazil Mission). Choramos naquele início de aulas o seu prematuro desaparecimento. Foi feita, pelos seminaristas, uma cerimônia memorial em que fui escolhido para redigir e ler uma biografia do nosso pranteado Abraão, com a presença dos seus pais. Esta escolha recaiu sobre mim por ter tido maior relacionamento com ele. Tudo foi muito comovente! Era um soldado promovido pelo Supremo Comandante. Rendemos graças a Deus pela vida do seminarista.

(Extraído do livro “Os meus dias” – Rev. Lázaro Lopes de Arruda, 1997.)

Triste lembrança
Lembro-me do primo Luziano, um dos mais familiares primos de infância, da adolescência e da primeira idade. Luziano tinha um irmãozinho, um dócil e amorável garoto de cinco anos. Numa tarde de verão, saíamos, tios e primos, para fazer um passeio de campo e visitar alguns conhecidos. Minha tia recomendava cuidado, aconselhando o filho Hermínio que procurasse a sombra das árvores e não os lugares de sol. É que o menino não havia passado bem durante a noite. Tivera vômito e um pouco de febre. Era, porém, o menino que mais se expunha ao calor, correndo pelo campo, apanhando flores, montado numa vara de madeira, como se estivesse cavalgando um fogoso corcel.

Chegamos à casa da tia um pouco de tempo, saindo logo, distribuindo as crianças para diferentes rumos. Hermínio, em sua casa não entrou. Ficou deitado em uma tábua, ainda com o feixe de ramos à mão. Minha tia o chamava, para que evitasse apanhar mais sol. Ele ouvia o chamado da mãe, mas continuava deitado, resmungando e até gemendo, contava a tia.

Afinal, cansada de falar, sem ser atendida, tomou uma vara e, agarrando o menino pelas mãos, começou a arrastá-lo e ao mesmo tempo que o vergastava com a vara fina. Contudo, em certo momento, observou que o menino estava com o corpo mole e sem aprumo. Quando já dentro de casa colocou o menino na cama, irrompeu num choro convulsivo. Hermínio dava o derradeiro suspiro...

Noite trágica. O velório foi em minha casa. Em cada canto se ouviam suspiros e gemidos. Tio João e tia Donária, os pais, estavam inconsoláveis! Lá fora, um lampião aceso, preso a um mourão, derramava uma claridade solene, enquanto meu pai, com um serrote e um martelo, ia serrando e ajustando tábuas para fazer o caixãozinho para o Hermínio. Sentia-se o cheiro da madeira enquanto o pó esvoaçava com o vai-e-vem da serra.

Lá no interior da sala, ouviam-se soluços e lamentos. Dentro de mim, vozes se erguiam da alma inocente com dolorosas indagações: "Por que Hermínio morreu? O que é morrer? Por que morrer? Por quê? ... Por quê?... Ninguém e nada me respondia. O caixão ficou lindo, enfeitado com fitas, cheio de flores. E o anjinho ficou deslumbrante com a grinalda. Nenhuma palavra de esperança.

Meu avô tartamudeava, comovido a dizer o seu terço... só. A realidade era aquela que polarizava todo o sentimento: Hermínio está morto! E eu na minha cogitação de criança, ao morrer um velho, pensava: "Já era velho. Teria de morrer". Quando morria uma criança ou um jovenzinho, filosofava: "Por que morreu tão cedo? Tantos velhos por aí... e a morte levou um menino. Hermínio foi um dos que a morte não poderia levar agora!!!!"

(Extraído do livro “Os meus dias” – Rev. Lázaro Lopes de Arruda, 1997.)

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